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Esta Gente
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ESTA GENTE
de Hugo V. Costa
Que gente é esta?
Que povo é este?
Não faz nada
só trabalha
diz mal de tudo
só atrapalha
Que gente esta!
Que povo este!
Gente triste
tristemente
abandonada
à mesma gente
Revoltada,
sangue quente
Triste sina
traste gente
Sem dinheiro
sem bilhete
engolindo
facilmente
o que custa a tanta gente
sem desculpa
para a culpa
que, afinal, diz que não sente
Gente fina
traste gente
Sangue quente
ò quente gente
Gente dócil
gente fóssil
àgua mole
em pedra dura
gente escrava
gente escura
a gente falha
a gente fura
a gente enverga a cornadura
a gente aguenta a ditadura
a gente come
a gente cala
não reclama
ou se reclama
a gente grita como fala
Mas a gente não fala
a gente declama
a gente passa a Taprobana.
a gente discursa
a gente proclama:
que é difícil,
que é injusto
que é suplício
que é corrupto
é ladrão
é cabrão
é fodido
é lixado
é tramado para esta gente
ter tanto mar
e um mar de gente
sempre pronta a tramar a gente
Mas a gente deixa
a gente aguenta
fecha os olhos
olha para o lado
assobia uma cantiga
e faz de conta que não é com a gente
Que gente é esta?
Que povo é este?
Já nada resta
já nem se sente
Vida de besta
e um ar de gente
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2. |
Só Se Tem Não Querendo
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3. |
Gatinho Preto
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GATINHO PRETO
de Hugo V. Costa
Minha Moreninha,
Pequenina,
És o meu gatinho preto.
És a minha paixão de gatinha e eu sou o teu gatão.
Adoro as tuas patinhas,
O teu pelo
E o teu olhar,
Com aquele ar de gatinho
Que é tão difícil não gostar.
Na noite escura e vadia
Encontrei-te a passear.
Levei-te para casa, gatinho,
Tratei de te alimentar.
Disseste ‘obrigada’,
Gatinho,
Que me amavas,
Que eu era teu.
E eu,
Armado em gatinho.
Deixei tudo o que era meu.
E na nossa cama,
Gatinho.
Juraste não me deixar.
Mas eu desconfiava, gatinho.
Um gato é sempre de desconfiar.
Pois nesse dia, gatinho,
Em que me deixaste
A miar,
Senti-me como um ratinho
Que criaste, para almoçar.
Mas eu juro,
Gatinho;
Eu tinha,
Gatinho;
Eu tinha a certeza –
Sabia que um dia viria
E eu,
Gatinho,
Diria:
Voa, gatinho,
Voa,
Com asas de cotovia.
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4. |
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5. |
O Banqueiro Inquieto
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O BANQUEIRO INQUIETO
de Hugo V. Costa
Vamos então por aí
Ser ideia que se esvai
Que mais resta nesta festa que o tanto tempo que nos resta
O teu fado alimentar é um salário modesto
Um rectângulo microscópico que eu contemplo p’la manhã
As secretárias, nos elevadores, cumprimentam os estupores que lhes lambem o soutien
E o sol lá fora diz-me: é hora de ligar para a mamã
Vamos então, por aí, calcular o mal parado
Que a manada mal parida gasta tudo de assentada
O teu fado alimentar é uma pequena casa arrendada
Um rectângulo triste, obtuso, que me sabe a entremeada
As secretárias dos directores cumprimentam os estupores da comitiva alemã
E o sol lá fora diz-me: é hora do meu café da manhã
Vamos indo, tu e eu, eu deste lado e tu daí
Só nos resta a indiferença dessas cartas que eu escrevi
O teu fado alimentar, num plano mais abrangente,
É só um rectângulo vermelho, que às vezes me põe doente
As secretárias, nos corredores, cumprimentam os superiores que lhes chupam o pescoço
E o sol lá fora diz-me: é hora de ir aquecer o almoço
Vamos lá, vamos lá, será tão mau assim,
Porque choras a demora dos juros do festim?
O teu fado alimentar, o teu esforço e sofrimento, são um rectângulo minúsculo que me serve de alimento
As secretárias, nas reuniões, coram por todos os cabrões que lhes arrancam os embriões
E o sol lá fora diz-me: é hora de coçar os meus colhões
Vamos então por aí,
Cada qual igual a si
Todo o tempo que eu te dei foi só tempo que eu perdi
O teu fado alimentar, o teu tanto para nada
É uma espinha de bacalhau na minha noite de Consoada
As secretárias picam o ponto
E eu despeço-me deste dia
O sol lá fora diz-me: é hora de arrumar a cobardia
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6. |
Malandros
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7. |
A Pior Dor
00:19
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8. |
College Road
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Hugo Vieira Costa Lisbon, Portugal
Músico, letrista, membro do grupo Indie Pop português Montanha Mágica e dos Líderes da Nova Mensagem - uma das bandas pioneiras do Hip Hop em Portugal, integrantes da histórica colectânea “Rapública” (Sony Music, 1995). Editou dois livros: o thriller “A Corporação Invisível” (Esfera dos Livros, 2016) e a colectânea de contos “8 Mulheres e ½” (Esfera dos Livros, 2018). ... more
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